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Quem nunca brincou ou se imaginou naquele frisson com o “Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três! Vendido para o cavalheiro de camisa vermelha!”?
Mas crescemos e o que existe hoje de leilão de carro na internet com ofertas interessantes mal cabe no tempo livre que temos.
Contudo, é preciso tempo e paciência para segurar a ansiedade e fazer realmente um bom negócio.
Afinal, em alguns casos, você pode comprar um veículo por até metade do preço de mercado.
Porém, quais são as diferenças entre os tipos de leilões de automóveis, o que deve ser observado com atenção, os custos além do carro?
Esses são só alguns dos pontos que você deve observar antes de participar de um pregão.
A QUATRO RODAS ouviu especialistas para destrinchar esse mercado, que cresceu 30% no último ano.
Um guia com o passo a passo para você fazer de fato um bom negócio – e realizar o sonho de ser apontado pelo leiloeiro, sem se arrepender dias depois.
Prós
- carros mais baratos: no leilão, você encontra veículos abaixo do preço de mercado. O valor pode custar entre 30% e 50% a menos da tabela FIPE, que estabelece o preço de carros novos e usados;
- veículos sem dívidas: de acordo com o art. 328 do Código de Trânsito Brasileiro, os carros adquiridos em leilão devem estar com todos os débitos quitados. Isso inclui multas e impostos com pagamento pendente pelo proprietário anterior;
- variedade de modelos: é possível encontrar diversos tipos de veículos no leilão, de acordo com o que você procura. Por exemplo: automóveis, motos e utilitários, importados ou nacionais. E, ainda, modelos novos, seminovos e usados.
Contras
- pagamento à vista: você só poderá adquirir um veículo de leilão com o valor total no ato da compra. Ou seja, financiamentos, consórcios ou parcelamentos estão fora de cogitação;
- gastos extras: apesar de não ter dívidas, os carros de leilão exigem gastos extras com outras questões. Por exemplo, despesas com problemas mecânicos, regularização dos documentos do veículo, etc;
- dificuldade de contratar seguro: muitas seguradoras se negam a fazer o seguro de um carro comprado em leilão. Caso contrário, quando são aceitos, a cobertura é baixa e não tão vantajosa.
Leia com atenção
O primeiro passo, antes de qualquer coisa, é ler o edital do leilão. Ficar atento a todas as informações dos veículos que deseja e, especialmente, às regras do leilão.
Ter a noção exata de quem é a responsabilidade de pagamentos e taxas – há várias obrigações depois de arrematar o veículo, que explicaremos adiante, mas que precisam ser mencionadas nos documentos.
Também deve constar no edital outras informações detalhadas sobre o lote. Entre elas, a origem do leilão (veja a seguir), o estado do automóvel e se há multas ou impostos em atraso, entre outras.
“O edital é a regra do jogo e tem de ser lido com atenção. Na dúvida, ligue para o leiloeiro, pois ele tem a obrigação de esclarecer pontos omissos ou contraditórios.
Fique atento às responsabilidades do pagamento, informações de danos do carro e se ele está funcionando”
Explica Leandro Mauro Munhoz, advogado especialista em pregões e proprietário da consultoria LM Leilões.
Diferenças entre leilões
Na esfera privada, existem leilões de diferentes naturezas.
Cada um tem suas peculiaridades, tanto em relação a preços como em relação a procedimentos e processos pós-aquisição, além de restrições que o veículo pode ter.
Por essa razão, cada leilão pode ser até voltado mais para um público específico.
Bancos
Via de regra, são veículos recuperados de financiamentos.
A origem do carro é sempre uma operação financeira.
Ou seja: geralmente são bens que foram financiados por pessoas físicas. Como elas deixaram de pagar as prestações, a instituição pode levar o automóvel a leilão.
Seguradoras
São carros sinistrados e/ou recuperados, e é justamente aí que é preciso ter muita atenção.
Isso porque existem três graus de sinistralidade, que podem impedir que o arrematador consiga fazer até o seguro do veículo futuramente:
Pequena monta – O veículo sofreu danos de natureza leve, que não abalaram o monobloco ou a estrutura.
Algumas seguradoras têm planos de coberturas especiais para esse bem.
Média monta – O carro sofreu um dano mais grave e a maioria das seguradoras não faz apólice para esse tipo de automóvel.
Além disso, alguns são proibidos de circular: é preciso fazer o conserto, submeter o veículo a uma vistoria no Detran e obter laudo com restrição gravada no documento, que tem validade de 30 dias, podendo ser prorrogado por mais 30.
Então, é preciso ter uma projeção de quanto será gasto no conserto e na regularização, e quanto tempo isso demandará.
Se o lance estiver muito próximo ao valor de mercado, não vale a pena.
Grande monta – É o famoso “PT”, perda total. O carro só serve de sucata e geralmente é adquirido por empresas especializadas e de ferro-velho.
Roubo e Furto
Bom lembrar que no leilão originário de seguradoras existem também os veículos frutos de roubo e furto, que não sofreram sinistros e foram recuperados – mas cuja indenização já havia sido paga ao cliente.
Apesar de algumas seguradoras fazerem restrições, boa parte tem apólices para esse tipo de automóvel.
Empresas
Grandes e médias corporações têm frotas próprias.
Em geral, são leilões de carros com ótima origem, bom histórico de manutenção e conservação e que geralmente se refletem em bons negócios.
Clássicos
É uma modalidade que cresce bastante.
São modelos dos anos 1970 aos 1990 que são considerados clássicos ou demonstram potencial valor histórico.
Nesta modalidade, o contexto é diferente, já que o carro está no pregão, em geral, por uma opção do dono, e não obrigatoriamente por uma necessidade.
“Enquanto existe um preconceito em relação a leilões tradicionais, os de clássicos estão conseguindo o efeito contrário.
Há uma valorização pela passagem do veículo pelo leilão. É um pregão ainda mais detalhado e transparente”
Enaltece Joel Picelli, leiloeiro oficial da Picelli Leilões e especialista nesse tipo de edital.
Nesses pregões, o conteúdo costuma ser mais extenso no edital.
Isso porque há informações – além das usuais – sobre nível de originalidade, necessidade de restauração e até sobre o estado de determinadas partes, como assoalho, para-choque e motor.
“Todo mundo envolvido no processo é do mercado e entende aquilo que a gente está vendendo. Cria-se um valor para os carros que passam pelo leilão”
diz Picelli.
Judiciais
São veículos geralmente apreendidos de processos investigativos e criminais ou de pendências nas justiças trabalhista e cível.
Também podem ser boas oportunidades para se adquirir um carro em bom estado a um preço atraente, mas sempre é preciso ter um advogado para resolver questões pós-leilão.
É como se você tivesse importado uma peça e precisasse de um despachante para fazer o desembaraço no porto.
Isso porque o bem, que está em nome de uma pessoa física ou jurídica, foi apreendido dentro de um processo, mas continua em nome de terceiros.
Além disso, em decisões trabalhistas e cíveis, o carro ainda não foi recolhido, então é preciso ter alguém que vá atrás do automóvel.
“Não significa que você está comprando um problema, mas que necessita resolver trâmites judiciais, portanto é importante contratar um advogado. Por isso, o comprador precisa entender de que leilão está participando”.
afirma o especialista.
Triagem
Faça uma seleção dos carros do seu interesse. Depois de conferir as informações sobre o estado do veículo no edital, verifique no site do leiloeiro os dias de visitação dos lotes – mesmo na pandemia, muitos estão com agendamento e controle de entrada para visitação.
Você não pode virar a chave para ligar o motor, mas pode inspecionar bem o veículo.
E, aqui, vale aquela regra na hora de comprar qualquer seminovo ou usado.
Observe bem a lataria, alinhamento das portas, diferenças de cor entre as peças, sinais de reparos no compartimento do motor e do porta-malas e o desgaste na cabine.
Se não está 100% seguro, leve um profissional de confiança à visita.
“Mas se você entende de automóveis pode ir sozinho, porque o carro fala por si.
Você consegue ver a situação de desgaste, gambiarras no motor e diferenças nas carrocerias.
Leilão é uma das formas mais honestas de comprar carro, porque ele está lá no estado em que se encontra. Muitas vezes sujo, não tem polimento para disfarçar”.
ressalta Picelli.
Planejamento
Calculou o quanto você quer desembolsar?
Então, veja qual lance máximo está dentro do seu orçamento, levando-se em consideração as taxas do pregão e também os custos que ainda eventualmente estão pendentes do carro, como IPVA, multas e outras pendências.
“Na hora da empolgação a pessoa não faz conta. E o IPVA? E as multas? E as taxas do leiloeiro? Planeje o lance. Coloque no papel os débitos e até que valor você pode ir para estabelecer um limite para a sua oferta”,
orienta Leandro Munhoz, da LM Leilões.
Que custos são esses? Além de multas pendentes e IPVA em atraso – que normalmente são responsabilidade de quem arremata o veículo –, os carros de leilão também trazem na carona taxas administrativas.
Tem a comissão do leiloeiro, de 5% sobre o valor arrematado, e a “Taxa de Pátio”, o tempo que aquele lote ocupou um galpão e que varia de leilão para leilão: entre R$ 500 e R$ 1.500.
E não esqueça que, para a casa de leilões, o pagamento deve ser feito à vista.
Há um prazo de 48 horas para que o arrematador pague pelo carro, sob pena de multa de até 20% do valor do lance ofertado.
Quando vale a pena?
Não existe uma regra básica para se saber quando a quantia dada no lance vale a pena em um carro de leilão, pois tudo depende também do estado do bem e dos custos pendentes.
A dica é pesquisar a média de preços do mercado para aquele modelo, ano e versão.
Se o automóvel for para uso próprio, é um bom negócio dar um lance mais os custos que equivalem a 20% de “desconto” em relação à média praticada no mercado.
Ou seja, se o carro custa R$ 50.000 entre os seminovos, seria válido gastar até R$ 40.000 (arrematação, taxas administrativas e custos).
Para quem faz negócio (agências e revendas), o ideal é obter 35% de “abatimento”.
Lance Condicional
Os leilões costumam ter algumas regras específicas também. Uma delas é o lance condicional, geralmente objetos de pregões judiciais ou extrajudiciais.
É quando o pregão tem um valor mínimo para aquele bem, mas essa quantia não é atingida.
Então, o leiloeiro reporta o lance mais próximo à Justiça e esta pode deferir, negar ou apresentar uma contraproposta. Se for negado, um novo pregão tem de ser realizado.
Pós Leilão
Separe também uma quantia para cobrir reparos e revisão de Veículos de Leilão.
Por mais que o automóvel aparente estar em bom estado e seja de origem de frota de empresa ou mesmo judicial, não se tem certeza absoluta de como foi a manutenção daquele veículo antes de ir a leilão.
Outro ponto importante: automóvel de leilão não tem garantia.
Lembre-se também que carros arrematados em pregões costumam ter uma desvalorização maior que a média do mercado, mesmo que eles sejam modelos sem histórico de sinistro.
E os com esse histórico, quando são aceitos pelas seguradoras, costumam ser segurados com menos de 90% do valor de referência da tabela Fipe.
Fonte: Quatro Rodas
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